RAFAEL BORDALO PINHEIRO (1846-1905)
Raphael
Augusto Prostes Bordallo Pinheiro é uma das personalidades mais relevantes da
cultura portuguesa oitocentista, com uma produção notável designadamente nas
áreas da caricatura, do desenho humorístico e da criação cerâmica. As obras de
arte de Rafael Bordalo Pinheiro são prova viva disso. Nasceu a 21 de março de
1846, em Lisboa, cedo ganhou o gosto pelas artes. Em 1860, inscreveu-se no
Conservatório e posteriormente matriculou-se sucessivamente na Academia de
Belas Artes no Curso Superior de Letras e na Escola de Arte Dramática. Bordalo
Pinheiro começou por tentar ganhar a vida como artista plástico com composições
realistas, apresentando pela primeira vez trabalhos seus em 1868, na exposição
promovida pela Sociedade Promotora de Belas-Artes. Em 1871, recebeu um prémio
na Exposição Internacional de Madrid. Paralelamente, foi desenvolvendo a sua
faceta de caricaturista, ilustrador e decorador. Em 1875, criou a figura do Zé
Povinho publicada n'A Lanterna Mágica. Nesse mesmo ano, Bordalo Pinheiro partiu
para o Brasil onde colaborou em diversos jornais e enviava a sua colaboração
para Lisboa. Em 1879, regressa a Portugal. É nesta época que integra o Grupo do
Leão (1881-89), importante formação livre apoiada por Alberto de Oliveira
(1861-1922) que reúne artistas, escritores, intelectuais em torno de Silva
Porto (1850-1893) e inclui os pintores José Malhoa (1855-1933), António Ramalho
(1859-1916), João Vaz (1859-1931), Moura Girão (1840-1916), Henrique Pinto
(1853-1912), Ribeiro Cristino (1858-1948), Rodrigues Vieira (1856-1898),
Cipriano Martins e ainda Columbano, que pinta o célebre retrato de grupo (1885)
onde figuram estes protagonistas à mesa do Leão d’Ouro, acompanhados por Manuel
Fidalgo e outro dos criados daquela cervejaria lisboeta. Também Rafael Bordalo
Pinheiro caricatura os mesmos na “Alegoria ao Grupo do Leão”, óleo a simular
azulejo em que cada artista surge com os atributos do seu género de pintura. Em
1900, dá lugar a “A Paródia”, revista que atesta o desencanto de Rafael Bordalo
Pinheiro face à vida política do País, substituindo-a cada vez mais pelo
comentário do seu desenho aos eventos e às personalidades do meio artístico
lisboeta, e dando espaço à colaboração do filho Manuel Gustavo (1867-1920). A
criação da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha sob a direção artística de
Bordalo Pinheiro e a sua instalação na vila, em 1884, contribui decisivamente
para a revitalização da cerâmica local, quer pela revolução das formas, quer
pela gramática decorativa de raiz francamente naturalista e tantas vezes duma
exuberância a desafiar a realidade. É a oportunidade de passar à argila a
caricatura e o humor, entre muitos outros motivos criando os bonecos de
movimento, como o Zé Povinho, a Velha Maria, a Ama das Caldas, o Cura, o
Sacristão, o Polícia. Em 1889, Bordalo Pinheiro dirige a construção do Pavilhão
de Portugal na Exposição Universal de Paris. A cerâmica das Caldas tem um
enorme sucesso e o artista é galardoado com medalha de ouro. A 23 de janeiro de
1905, Rafael Bordalo Pinheiro morre em Lisboa.